Projeto de pesquisa chapéu

Planejamento e desenvolvimento territorial urbano e regional: configurações territoriais e dinâmicas socioambientais e espaciais

A proposição aqui apresentada reforça a reflexão sobre as dinâmicas territoriais atuais e as contradições fomentadas pelo processo de globalização e das novas tecnologias de informação (TICs). A cidade contemporânea, cujas lógicas econômicas, sociais, culturais e políticas ainda não foram desveladas, em especial no Brasil, articula distintas e mutantes configurações urbanas e regionais que se alteram e se sobrepõem de forma interescalar nos territórios (ARROYO, 2009; ASSEN DE OLIVEIRA, 2011; PESQUE DO AMARAL E SILVA, 2011; SEGRE, 2004). Ela acumula avanços em temos de oferta de novos serviços, de tecnologia para solução de problemas coletivos (ASMOLOV, 2017; BENKLER, 2006; COOPER, 2017; DE FERAUDY; SAUJOT, 2016; FERSTER, 2017) de espaços para lazer ou opções de formas mais sustentáveis de relação com o ambiente. Entretanto, estes avanços não se estendem a toda a população (ERMOSHINA, 2017; STAMM; EKLUND, 2017) e observa-se um agravamento das situações de segregação, de mobilidade e de acessibilidade aos bens e serviços urbanos e regionais (KOWARICK, 2009; MAGALHÃES; VILLAROSA, 2012; MARICATO, 2008). Conceitos como o das “cidades inteligentes”, “territórios inteligentes”, “cidades criativas”, cidades sustentáveis”, entre outros, trazem novas formas de tratar e ordenar as cidades (FERRO, 2017; GEHL, 2005; GIFFINGER; GUDRUN, 2010; GLEIBS, 2017; KANTER; LITOW, 2009; LEITE, 2012; NAM; PARDO, 2011; TOPPETA, 2010; WASHBURN, 2010) muitas vezes desconsiderando, ou mesmo promovendo, o acirramento da exclusão sócio-territorial, socioambiental e mesmo econômica de grande parte da população (SANTOS FILHO, 2004; SUGAI, 2002, 2012; VILLAÇA, 2001). Desta forma, o projeto buscar investigar mais profundamente as relações entre os novos conceitos e formas de pensar as cidades e as regiões e seu rebatimento no território e como as configurações resultantes contribuem (ou não) para um efetivo desenvolvimento. Também interessa a compreensão destas dinâmicas nas estruturas urbanas com aspectos importantes da construção dos espaços da cidade e de sua apropriação pelos cidadãos. Para efetivar esta investigação nove subprojetos estão vinculados a este Projeto Individual de Pesquisa: “Novos Conceitos X Antigos Problemas: As Tecnologias Digitais e a Informalidade Urbana”; “Novas Centralidades Urbanas: Os Clusters Urbanos e os Distritos Industriais na formação das cidades inteligentes”; “O Uso de Crowdsourcing na Pesquisa e Planejamento Urbano: possibilidades, riscos e limitações”; “Avaliação de Alternativas de Projeto Urbano Sustentável: uma Nova Abordagem da Técnica da Preferência Declarada”; “Ativos territoriais como suporte ao desenvolvimento de territórios inteligentes: o caso das Denominações de Origem (DO) e Indicações Geográficas (IG) no Brasil”; “Habitação social e morfologia nas cidades brasileiras”; “A produção do espaço urbano de Florianópolis/SC a partir da análise da implantação dos Equipamentos Institucionais Públicos”; “Transformação na paisagem, memórias e apropriação do espaço: a Beira Mar Continental no município de Florianópolis”; Ingleses do Rio Vermelho: forma urbana, espaços públicos e natureza”. Destes subprojetos três já se encontram em estágio de desenvolvimento e foram propulsores dos demais subprojetos em vista dos resultados já alcançados. Várias abordagens metodológicas possibilitarão o desenvolvimento das pesquisas, entretanto, como linha comum a abordagem fenomenológica qualitativa e o objetivo exploratório/descritivo serão prevalecentes. Também serão utilizados estudos de caso, simples ou múltiplo e, em alguns estudos, a pesquisa tipo-morfológica. Espera-se, a partir deste leque de olhares de aspectos importantes para o entendimento destas novas formas de pensar e atuar nos territórios, oferecer subsídios para o avanço do conhecimento sobre a temática.

Palavras Chave: Planejamento urbano e regional; Desenvolvimento territorial; Configurações territoriais; Dinâmicas territoriais.

Referências

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SUGAI. Maria Inês. Segregação silenciosa: Investimentos públicos e dinâmica socioespacial na área conurbada de Florianópolis. Florianópolis: Editora UFSC, 2012.

________. Segregação silenciosa: Investimentos públicos e distribuição socioespacial na área conurbada de Florianópolis. 2002. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo. 2002.

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PARTICIPANTES:

Doutorandos:

Anicoli Romanini

Juliana Carioni Di Bernardi

Carlos Alberto Barbosa

Giselle Carvalho

Mestrandos:

Marina Mercadante

Carla Stedile

Rafael Simão

Danielle Sella

Melina Sincas Kressin

Moacir Marques

Kelvin Centenaro

Tiago Stephani

Maria Fernanda Pezente (defesa este mês)

Mariana Molleri de Limas (defesa este mês)

Recém titulados (ainda haverá publicações conjuntas):

Sonia Rolhing (doutorado)

Karine Santos Luiz (mestrado)

David Sadowski (mestrado)

Novas centralidades urbanas: os clusters urbanos e os distritos industriais na formação das cidades inteligentes

Resumo

O aumento da população mundial vivendo em cidades é um fenômeno recente e crescente. Esta urbanização crescente acarreta em desafios relacionados a problemas de ordem econômica e ambiental, expansão desordenada, segregação socioeconômica e questões relacionadas à saúde, segurança e efeitos da mudança climática. No contexto brasileiro, estes problemas são ampliados ou potencializados pelo modelo de urbanização adotado no qual o espraiamento das cidades resulta dispersão e desarticulação entre polos de trabalho, oferta de serviços, locais de moradia, originando uma imensa gama de fluxos de pessoas e mercadorias. As centralidades urbanas, se pensadas de forma inclusiva podem reduzir em parte o impacto deste modelo espraiado de cidades ao mesmo tempo em que possibilita maior distribuição das oportunidades territoriais. Entretanto, os desafios das cidades contemporâneas não se restringem a pensar na formação de novas centralidades, novos conceitos e dinâmicas urbanas emergem a partir da oferta de novas tecnologias, demandando repensar arranjos a partir de formas anteriores de urbanização. Os Cluster Urbanos e os Distritos Industriais, configuram-se em regiões das cidades que poderiam assumir o papel de novas centralidades urbanas, tanto em centros urbanos degradados ou em processo de degradação como em periferias, apropriando-se das premissas das cidades inteligentes, resguardados os impactos de segregação e gentrificação que a adoção irrefletida poderia causar. Desta forma, o objetivo da presente pesquisa é analisar a organização do território urbano a partir de clusters urbanos e distritos industriais avaliando a formação de possíveis centralidades urbanas e sua influência na configuração de cidades inteligentes, utilizando com estudo de caso três cidades do estado de Santa Catarina. Para atender a esse objetivo será realizada uma pesquisa de natureza qualitativa e de caráter exploratório, utilizando como estratégia de pesquisa o estudo de caso múltiplo. Espera-se como resultados identificar novas conformações que possam ser inseridas nas estratégia de planos diretores urbanos e das políticas públicas e a incorporação de novas tecnologias de informação para cidades inteligentes propiciando melhor qualidade de vida do cidadão.

Palavras Chave: Cidades Inteligentes; Centralidades Urbanas; Clusters e Distritos Industriais.

A produção do espaço urbano de Florianópolis/SC a partir da análise da implantação dos Equipamentos Institucionais Públicos

Resumo

Entendendo o espaço geográfico como concepção social e histórica, a preocupação e a necessidade de se compreender o processo de produção de uma determinada parcela urbana e de como a implantação dos investimentos públicos realizados pelo Estado interfere na produção deste espaço, se torna uma linha de estudo importante para a compreensão dos processos de constituição do espaço urbano. Desta forma, o objetivo da presente pesquisa é analisar a produção do espaço urbano de Florianópolis/SC a partir da implantação dos equipamentos institucionais públicos. Tendo em vista o objetivo central da pesquisa que visa estabelecer relações entre aspectos que atuam na construção das dinâmicas urbanísticas e que resultam na construção do espaço urbano, sua estrutura e sua apropriação por parte dos cidadãos, a pesquisa, configura-se como um estudo teórico-empírico que terá caráter exploratório e analítico e abordagem qualitativa. Os resultados encontrados no presente estudo possibilitarão a compreensão dos reflexos da ação do Estado na construção do espaço urbano através de suas políticas públicas e se este processo ocorreu alinhado aos planos propostos para organização do território e como isto se refletiu na implementação destes. Mais do que possibilitar a reflexão sobre o próprio processo de planejamento em nível urbano, busca-se identificar as interfaces entre as diferentes esferas de intervenção no espaço da cidade e em que medida o poder local tem autonomia para determinar modelos territoriais ignorando a dependência dos processos políticos.

Palavras Chave: Produção do espaço urbano; Equipamentos institucionais públicos; morfologia urbana; investimentos públicos.

Novos conceitos x antigos problemas: as tecnologias digitais e a informalidade urbana

Resumo

Uma característica marcante do processo vertiginoso de crescimento urbano vivenciado nas últimas décadas, em especial em países menos desenvolvidos, é o surgimento de áreas informais, cuja vulnerabilidade se intensifica a partir destes fatores. Ao mesmo tempo, outro processo de desenvolvimento vertiginoso é o das tecnologias de informação e comunicação (TICs) que nos dias atuais sustentam novos conceitos relativos às cidades como o das cidades inteligentes ou das cidades criativas que seriam as que conseguem se desenvolver economicamente, ao mesmo tempo que, aumentam a qualidade de vida dos habitantes ao gerar eficiência nas operações urbanas. Entretanto é possível constatar que apesar da vasta digitalização, os territórios informais, e todos os problemas que os acompanham como a violência, a exclusão, etc., continuam existindo nestas cidades, independente de seus investimentos em inteligência. Desta forma, o objetivo deste trabalho é investigar se, e até que ponto, os novos conceitos utilizados amplamente no séc. XXI para qualificar as cidades, e baseados em tecnologias digitais e suas implicações/desdobramentos, contemplam e podem ressignificar áreas informais e mitigar a vulnerabilidade típica dessas ocupações. A metodologia da pesquisa será qualitativa e exploratória, a fim de possibilitar uma compreensão mais profunda dos assuntos abordados e utilizará estudos de caso de cidades classificadas como cidades inteligentes para averiguar se os níveis de vulnerabilidade social têm sofrido alteração a partir da utilização da TICs para a gestão do território. Pretende-se com esta pesquisa, como resultados teóricos, contribuir com os debates sobre a persistência da informalidade e novas formas de qualificação de territórios vulneráveis; questionar o otimismo dessas teorias e sua efetividade em relação a territórios expostos à vulnerabilidade nos seus mais variados aspectos; gerar reflexões acerca de como as tecnologias de informação e comunicação e recursos utilizados para tornar as cidades inteligentes contribuem na ressignificação de territórios informais ou não, e verificar a possibilidade de apontar caminhos para soluções, no sentido de tornar as cidades contemporâneas melhores também para os grandes contingentes populacionais presentes nas áreas informais.

Palavras Chave: Informalidade urbana; Cidades Inteligentes; Vulnerabilidade social urbana.